Os contratempos não constituem
motivos para a vida perder o sentido, mas a bendita oportunidade para a
renovação dos cometimentos da existência.
• Jaime Facioli
Da ciência da observação não somente se vê, como
também se sente no imo d’alma, o desalinho de uma parcela dos irmãos de
caminhada, viajando pelas veredas da vida sem se dar o direito de uma análise
dos problemas existenciais, sob o pálio das provas e expiações a que todas as
criaturas estão sujeitas e, com isso, ver o objetivo e o sentido para a existência
preciosa da vida, sempre bela, colorida e consentida.
Bem por isso, pode-se asseverar que uma das dificuldades do ser humano
quando moureja no lado escuro da vida é a ausência de sentido que lhe dê um
colorido, vendo-a sob a perspectiva do futuro como lecionou o Divino Pastor,
prometendo os esplendores celestes. Nesse sentir, observa-se um dos crimes mais
violentos que se pode cometer contra as leis divinas expressar-se no suicídio,
atingindo todos aqueles que estão entibiados, ainda que sejam jovens dotados de
beleza física, com origem em famílias bem estruturadas financeiramente,
ilustrando-se nas melhores universidades da vida, mas que se esquecem dos
valores d’alma.
São criaturas possuidoras de todos os recursos materiais que poderia valer-se
das oportunidades concedidas pelo Senhor da Vida, serem felizes, aproveitarem a
bendita oportunidade da reencarnação e colocarem no coração o suave perfume do
Divino Jardineiro, celebrando, homenageando a vida e vivendo feliz. Nada
obstante, não é incomum essas criaturas buscarem a morte voluntária,
surpreendendo os que se esforçam para ter puro o coração, como ensinou o Homem
de Nazaré, porquanto se constata nas estatísticas, verbi e gratia, uma das
causas mais frequentes de morte, o suicídio, provocado por criaturas em
desalinho, ao eleger viver sem sentido religioso ou o exercício da fé, e da
mesma sorte, sem se estimular na prece-poema de São Francisco de Assis que
concita aos corações amorosos o “dando que se recebe”.
Com fulcro nesse sentimento, há na redação espírita um relato humanista no
capítulo “O ser humano que sofre” inserto no livro O que não está escrito nos
meus livros, de Viktor E. Frankl, da editora É Realizações, autêntico exemplo
de vida e sentido para a existência daqueles que se deixam levar pelo desânimo,
inconformismo e desesperança da vida. O psiquiatra vienense, em uma de suas
conferências, contou que, certa feita, foi acordado pelo telefone às três horas
da manhã. Do outro lado da linha, uma mulher dizia que acabara de tomar a decisão
de se suicidar.
Ela estava curiosa para saber a opinião dele. Calmamente, ele lhe disse o
que sempre existe para se falar contra o suicídio. Durante um largo tempo eles
discutiram todos os prós e contras. Por fim, Viktor conseguiu que ela prometesse
não fazer nada nas próximas horas e pediu-lhe que fosse ao seu consultório
naquela manhã. Pontualmente às nove horas, conforme ele estabelecera, ela
apareceu. E confessou: “O senhor vai se enganar doutor, se estiver achando que
qualquer um dos argumentos que o senhor me apresentou essa madrugada teve o
mínimo efeito sobre mim. Se alguma coisa me impressionou, foi o fato de tirar
um homem do seu sono e, em vez de brigar comigo, ele me escutou pacientemente
por mais de meia hora. E depois conversamos. A partir daí, cheguei à conclusão
de que, se isso existe, então quer dizer que é preciso dar mais uma chance à
vida, à continuação da vida”.
Na mesma fonte, o famoso psiquiatra, criador da logoterapia, considerada a
Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, contou ainda que, certa manhã, chegou
à clínica e cumprimentou um pequeno grupo de professores, psiquiatras e
estudantes americanos que estavam em Viena, com o intuito de realizar algumas
pesquisas. Ele lhes disse que um programa televisivo nos Estados Unidos
escolhera algumas pessoas e lhes pedira que resumissem numa frase o objetivo da
vida. “Bem, eu fui selecionado. O que os senhores acham que eu escrevi?”,
perguntou Viktor. Todos ficaram pensando até que um estudante respondeu: “O
senhor escreveu que o sentido de sua vida era ajudar os outros a ver o sentido
de suas vidas”. “Exato – respondeu o médico –, foi precisamente isso que
escrevi”.
O sentido da vida, a toda evidência, não se encontra apenas nesse fato
humanitário, o relato que foi capaz de estabelecer a relação humana com quem
estava enfraquecida momentaneamente, e mais do que isso, salvou uma vida
preciosa. Da mesma sorte, essa lição no auxílio ao próximo estende-se também
nos versículos 12, do cap. VII e 39 do cap. XXII do Evangelho de Mateus, e no
versículo 31, do cap. VI do Evangelho de Lucas, sendo notória a prescrição do
médico dos médicos há mais de dois mil anos: “Amai o vosso próximo. Fazei aos
homens tudo o que queirais que eles vos façam. Tratai todos os homens como
desejai que eles vos tratem”. Sob o fluxo desse sentimento, se nos importarmos
com nosso irmão de caminhada, encontraremos o sentido na vida porque sempre
haverá uma lágrima para enxugar, um coração para consolar, alguém para
agasalhar, um carinho a dar.
Oh! Meu Deus. A esse respeito, que exemplo foi o legado de Francisco Cândido
Xavier para traçarmos os objetivos de nossas vidas: crescer em
intelectualidade, mas não esquecer que somos gente, rodeados de gente e que
todos ansiamos muito por alguém que se importe conosco. Com esses sentimentos,
os desgostos da vida sobrevêm em nossas atuais condições evolutivas, porque as
criaturas são propensas a fixar o coração nos fenômenos do mal, extremamente
desmemoriados quanto ao bem, à feição de pessoa que preferisse morar dentro de uma
nuvem obnubilada, mesmo estando à frente do sol.
Ligeiro mal-estar obscurece-nos a harmonia interior e adotamos regime de
aflição que acaba por atrair-nos moléstia grave, porque apagamos da lembrança
os milhares de horas felizes que lhe antecederam o aparecimento, sem perceber
que o incômodo diminuto é aviso da natureza para que retomemos posição de
equilíbrio.
Breve desajuste no lar interrompe-nos a alegria, permitindo a presença da
revolta em nossos corações, instalando-se perigosos quistos de malquerença no
organismo familiar, porque olvidamos de relacionar os tesouros de estabilidade
e euforia com que somos favorecidos pelo Pai Celestial, tudo em razão de
fazermos ouvidos moucos à realidade de que o problema imprevisto expressa
bendita oportunidade de consolidarmos o amor e a tranquilidade no instituto
doméstico.
Insignificante desentendimento reponta na esfera profissional e exageramos o
acontecido, lançando perturbação ou incrementando a desordem ao se relegar a
justa importância aos dotes inúmeros que já recolhemos do nosso campo de
trabalho, na evolução do Espírito na direção do cumprimento da lei do
progresso.
Sem contradita, os contratempos não constituem
motivos para a vida perder o sentido, mas a bendita oportunidade para a
renovação dos cometimentos da existência, assim como na natureza, a primavera
deixa cair as folhas secas para nascerem outras esplendorosas em seu lugar.
Jamais em tempo algum se permita as criaturas pôr termo a sua existência,
porque o mundo em que vivemos é bênção do Senhor do Universo aos seus filhos
para alcançarem os páramos celestiais, é o meio e o caminho para o progresso
das criaturas com destino aos esplendores celestes. Toda graça recebida se
constitui sentido para a vida e motivo de alegria e satisfação, ainda que haja
na estrada a ser percorrida acúleos que necessitam ser suportados ou retirados
pela fé sincera e confiança no Senhor do Universo.
Fonte:Casa Editora O Clarim