quinta-feira, 16 de maio de 2013

A FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO - Marcus Alberto De Mário


Filosofia é "a ciência geral dos princípios e causas, ou sistema de noções
gerais sobre o conjunto das coisas; esforço para generalizar, aprofundar,
refletir e explicar, sistema de valores, força moral e elevação de espírito
com que o homem se coloca acima dos preconceitos; sabedoria". (1)
O Espiritismo é uma doutrina filosófica porque possui princípios e causas e
se constitui num sistema devidamente organizado explicando o homem e a vida.
Para compreendermos a filosofia espírita necessitamos ter a visão de que o
Espiritismo não está restrito apenas ao "O Livro dos Espíritos", sua obra
fundamental, mas espraia-se pelo conteúdo das obras kardequianas, inclusive as chamadas subsidiárias, pois no dizer de Kardec
"ninguém, pois, se iluda:
o estudo do Espiritismo é imenso; interessa a todas as questões da
metafísica e da ordem social; é um mundo que se abre diante de nós". (2)
Esse mundo que se abre diante de nós estrutura automaticamente uma filosofia espírita da educação. O aspecto educacional do
Espiritismo através de sua filosofia descortina um mundo novo para renovação moral do homem a partir da constatação da
imortalidade e da reencarnação. E a palavra abalizada de Kardec sentencia: "É pela educação, mais do que pela instrução, que se
transformará a humanidade". (3) Para Herculano Pires, a "filosofia da educação (...) abrange todo o contexto de ações e reações
subjetivas que vai do ser como ser ao social como social e como cultura. A filosofia da educação extravasa de sua própria polaridade
no momento em que transcende o social para penetrar no cultural, no pleno domínio do espírito". (4) E qual a filosofia da educação
que penetra no "pleno domínio do espírito"? É a filosofia espírita.
Não que outras doutrinas espiritualistas tenham desconsiderado o Espírito,
mas nenhuma possui a sistematização do conhecimento do ser enquanto ser imortal criado por Deus, como possui o Espiritismo, e
sistematização em
bases lógicas, racionais, comprovadas por pesquisas sérias acerca da
reencarnação e pelas investigações pós-morte proporcionadas pela
mediunidade.
Ney Lobo assim se refere à visão espírita do ser e das coisas:
"A Doutrina Espírita (...) se ocupa de toda a realidade em todas as suas
dimensões. Da intimidade do átomo penetra em ascensão, todos os reinos
naturais, inclusive o dos Espíritos, culminando em Deus. É até mais
abrangente do que qualquer outra filosofia, pois inclui em suas reflexões o
plano dos Espíritos, objetivamente, como reais, e não como entes abstratos,
de razão ou míticos. Admite a filosofia espírita, as íntimas relações dos
Espíritos conosco, os encarnados, e suas manifestações no plano físico, com reflexões especulativas sobre isso tudo, sem prejuízo
das experiências
científicas correspondentes". (5) Da filosofia emana a filosofia da educação, que por sua vez desenvolve uma pedagogia, e com o
Espiritismo não é diferente. De sua filosofia temos com naturalidade a filosofia espírita da educação, que é um sistema ético-moral
tendo por base a moral ensinada e vivida por Jesus.
A través da filosofia espírita da educação temos algumas coordenadas que
nortearão todo o processo pedagógico da evolução do Espírito:
o educando é um Espírito reencarnado;
todo Espírito é criado por Deus e possui potencialidades naturais;
o educando possui idéias inatas e tendências trazidas de seu passado (vidas
anteriores);
a formação de hábitos morais deve preponderar sobre a instrução intelectual;
o educando deve construir sua perfectibilidade;
a vida é educação;
a reencarnação é instrumento pedagógico divino; e
o amor, sentimento maior, comanda a educação do Espírito.
Essas são algumas das coordenadas pedagógicas traz idas à luz pela filosofia espírita da educação, e que estão devidamente
traçadas em "O Livro dos Espíritos" e nas demais obras da Codificação.
Como já citamos, no dizer de Herculano Pires a filosofia da educação abrange o domínio social e cultural do homem - espírito
reencarnado - e, também, penetra no pleno domínio do Espírito, no entendimento que o mundo corpóreo e o mundo espiritual
interagem, sendo a humanidade o conjunto dos dois mundos, que se interpenetram.
Essa cosmo visão do ser e da vida, de forma sistêmica, é apanágio da
filosofia espírita, o que nos leva a considerar, necessariamente, que temos
em mãos uma nova educação: a educação total do Espírito!
Estudar a filosofia espírita e suas conseqüências educacionais para chegar à
prática pedagógica espírita no lar e na escola é tarefa que não se pode
adiar, pois significa legar ao mundo a chave para sua transformação.
Todas as correntes de pensamento e pesquisas as mais diversas sobre o homem esbarram quase sempre na leitura do mesmo
como ser biológico, cognitivo, com o seu psiquismo atrelado aos complexos mentais de ordem física. A transcendentalidade do ser é
apenas fuga religiosa ou interpessoal, busca de equilíbrio interior para uma
existência sem continuidade após a morte, quando o
Espírito completa, alarga e mesmo modifica tais pensamentos e pesquisas, sempre válidos mas carentes da realidade do homem
como Espírito imortal criado por Deus.
Vemos então a educação debater-se sobre as questões de ordem ética e moral sem conseguir soluções satisfatórias, e
perguntamos: não está na hora de levar a filosofia espírita da educação para os educadores e para escola? A prática educacional condiciona-se aos fins da educação, e que fins podem ser esses dentro da visão materialista do ser?
Somente a filosofia espírita pode alavancar o fazer educacional para fins
superiores.

Referências bibliográficas:
Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Ilustrado, Editora
Civilização Brasileira, 1973;
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, introdução, item 13.
Obras Póstumas, Allan Kardec, página 384.
Pedagogia Espírita, Herculano Pires, Editora EDICEL.
Filosofia Espírita da Educação, vol. 1, Ney Lobo, Editora FEB.
(Jornal Mundo Espírita de A gosto de 1997)

ARROGÂNCIA




A passagem evangélica do Filho Pródigo, é a história da peregrinação humana ao longo dos evos. A história de nosso caminhar pela conquista da humanização.
Consideremos o egoísmo como a doença original do ser. Ninguém escapou de experimenta-lo na espiral do crescimento. Até certa etapa, foi impulso para frente. Depois, quando a racionalidade permitiu a capacidade de escolher, tornou-se a matriz nosológica das dores humanas, transformando-se no hábito doentio de atender aos caprichos pessoais.

A centralidade do homem no ego estruturou a arrogância – sentimento de exagerada importância pessoal. Perdemos o contato com a fonte inexaurível da vida – o self Divino – e passamos a peregrinar sob a escravidão do eu. O resultado mais infeliz desse caminhar apartado de Deus foi uma terrível sensação de abandono e inferioridade. O ato de arrogar constituiu, pois, a proteção instintiva da alma contra a sensação de menos-valia. Esse foi seu primeiro passo no processo evolutivo em direção à ilusão, ou seja, a criação de uma imagem idealizada – um mecanismo de defesa para não desistir -, que fixou a vida mental em noções delirantes sobre si mesma. Assim nasceram no tempo as matrizes psíquicas das mais graves patologias mentais.

Essa auto-imagem é o delírio-primitivo, um recurso que, paulatinamente, a consciência foi obrigada a construir no conjunto das percepções de si mesma para se defender da sensação de indignidade perante a vida.

Nessa ótica podemos pensar as psicopatologias como uma recusa em ser humano, uma desobediência por não querer assumir o que se é na caminhada do progresso. Tornar-se humano significa assumir sua pequenez no todo universal, ter consciência da cruel sensação de desconexão com o Criador e do que realmente representamos no contexto do bailado cósmico. Mas também significa assumir-se como Filho de Deus, um Filho Pródigo de heranças excelsas que precisa descobri-las por si próprio e adquirir o título de Herdeiro em Sua Obra. Isso exige trabalho, dinamismo, ação e responsabilidade.

Existe um desajuste original, um gatilho milenar dos processos psíquicos do Espírito, agravados pelas sistemáticas recusas em admitir a realidade íntima no peregrinar das reencarnações.

Esse mecanismo defensivo primitivo foi trazido para a Terra por almas desobedientes que o consolidaram em outros orbes. As noções de abandono e castigo trazidas com os deportados incitaram os habitantes singelos da Terra a imitarem as atitudes de rebeldia, orgulho, revolta e desvalor. Analisar o adoecimento psíquico sem essa anamnese ontológico-espiritual é desconsiderar a causa profunda das enfermidades sob a perspectiva sistêmica da evolução.

Algumas patologias constitucionais, endógenas, encontram explicações ricas na compreensão das histórias longínguas da deportação. Isso não é uma hipótese tão distante quanto se imagina, porque os efeitos dessa história milenar são ativos e determinantes na atualidade em bilhões de criaturas atormentadas e enfermas. O desajuste primário, a dificuldade em aceitar a realidade terrena, é fator patogênico de bilhões de almas reencarnadas e de mais um conjunto de bilhões de outras fora do corpo, formando uma teia vibratória psicótica no cinturão da psicosfera terrena. A energia emanada da sensação coletiva de inferioridade é uma força epidêmica que puxa o homem para traz e dificulta o avanço dos que anseiam pela ascensão.

O tamponamento mental na transmigração intermundos foi parcial. Os símios psíquicos, quando fora do corpo pelo sono físico, tinham noções claras do sucedido, acendendo o destrutivo pavio da inconformação ao regressarem à carne, dilatando a sensação de prisão, ódio e rebeldia. O ato de rebelar-se passou a ser uma constante nas comunidades que se formaram. Estamos falando de um tempo aproximado de trinta a quarenta mil anos passados.

Surgem, nesse contexto emocional e psicológico, entre dez e vinte mil anos atrás, as primeiras manifestações de perfeccionismo – o anseio neurótico de resgate do perfeito dentro da concepção dos anjos decaídos. Um litígio que essas almas deportadas assumiram com Deus para provarem a grandeza que supunham possuir.

É imperioso considerar a relação entre psicopatologia e erraticidade. Existem ignorados lances de dor e morte psicológica que são deflagrados em aglomerações subcrostais ou regiões abissais da Terra onde transita uma semicivilização de almas. Autênticos símios psíquicos.

Em tempo algum, como atualmente, no orbe terreno, tivemos mais que 1/5 de sua população geral em processo de reencarnação. Reencarnar não é tão fácil quanto possa parecer. É oportunidade rara e disputada. Cada história individual requer inúmeros quesitos para ser disponibilizada. Laços afetivos, urgência das necessidades sociais, natureza das habilidades desenvolvidas pelo espírito, natureza dos compromissos com os seres das regiões da maldade. Os pontos de análise que pesam para a possibilidade de um espírito reencarnar são muito variados. Há corações que nesse trajeto de deportação, ou seja, nos últimos quarenta mil anos, estiveram no corpo menos de vinte vezes. O que significa afirmar que reencarnam aproximadamente de dois em dois mil anos. Outros não reencarnam há mais de dez mil anos.

Portanto, como analisar doenças mentais graves sem considerar que estagiamos na vida dos espíritos, pelo menos, 2/3 do tempo da evolução, incluindo a emancipação pelos desdobramentos noturnos? Enquanto os homens, à luz do espiritismo, analisam a raiz de suas lutas íntimas, lançando o olhar para as vidas passadas, urge uma reflexão sobre a influência das experiências do espírito errante.

Inúmeras almas já renasceram adoecidas, isto é, com os componentes psíquicos enfermiços em efervescência. Perdem o prazer de viver ou nunca o experimentam em decorrência da força que ainda mantêm com essas regiões infernais da erraticidade.

Os profissionais da saúde mental e mesmo quantos sofrem o amargor do adoecimento psíquico necessitam aprofundar a sonda do conhecimento nessas desafiantes questões. Somente através de laboratórios de amor nos serviços de intercâmbios socorristas, realizados distantes de preconceitos e convenções, poderá o médico ou o pesquisador espírita deflagrar um leque imenso de observações e informações para auxiliar a humanidade cansada e oprimida.

Além dos reflexos que conduzem em si mesmos, os doentes mentais cujos quadros exibem componentes dessa natureza ainda sofrem de simbioses intrigantes e desconhecidas até mesmo pelos mais experientes doutrinadores.

É por conta desse sentimento de condenação, incrustado no psiquismo desde tempos imemoriais, que a criatura não consegue ou desconhece o prazer de viver, a saúde.

A rota evolutiva dos Filhos Pródigos – que somos todos nós – é um percurso de esbanjamento psíquico através da atitude arrogante. Tal ação não poderia ser correspondida com outra sensação senão de vazio interior, cansaço de si e desvalimento, que são os elementos emocionais estruturadores da depressão – doença da alma ou estado afetivo de penúria e insatisfação. A terminologia contemporânea que melhor define esse caos sentimental é a baixa auto-estima, quadro psicológico que nos enseja ampliar ostensivamente os limites conceituais dos episódios depressivos, sob enfoque do espírito imortal.

Nesta hora grave pela qual passa a Terra, um destrutivo sentimento de indignidade aninha-se na vida psicológica dos homens. Raríssimos corações escapam dos efeitos de semelhante tragédia espiritual, causadora de feridas diversas. Uma dolorosa sensação de inadequação e desvalor pessoal assoma o campo das emoções com efeitos lastimáveis. Abandono, carência, solidão, sensação de fracasso e diversos tormentos da mente agrupam-se na construção de complexos psíquicos de desamor e adversidade consigo próprio.

Imprescindível atestar que nossa trajetória eivada de quedas e erros não retirou de nenhum de nós a excelsa condição de Filhos de Deus. A Celeste bondade do Mais Alto, mesmo ciente de nossas mazelas, conferiu-nos a bênção da reencarnação com enobrecedores propósitos de aquisição da Luz. É a lei do amor, mola propulsora do progresso e das conquistas evolutivas.

A Misericórdia, todavia, não é conivente. Espera-nos no cadinho educativo do serviço paciente de burilamento íntimo. Contra os anelos de ascensão, encontramos em nossa intimidade os frutos amargos da semeadura inconseqüente. São forças vivas e renitentes a vencer.

Sem dúvida, a ignorância cultural é causa de misérias sociais incontáveis, entretanto, a ignorância moral, aquela que mata ideais e aprisiona o homem em si mesmo, é a maior fonte de padecimentos da humanidade terrena.

O amor a si mesmo ainda é uma lição a aprender.

Criados para o amor, nosso destino glorioso é a integração com a energia da vida e com a liberdade em seu sentido de plenitude e paz interior.

Descobrir nosso valor pessoal na Obra da Criação é assumirmo-nos como somos. Sois Deuses, eis a mensagem de inclusão e o convite para uma participação mais consciente e responsável no destino de cada um de nós.

Do Livro: ESCUTANDO SENTIMENTOS – a atitude de amar-nos como merecemos



Wanderley de Oliveira/ Espírito Ermance Dufaux
Fonte: Conheça o Espiritismo