domingo, 24 de março de 2013

O TEMPO NA TERRA NÃO É ETERNO






O tempo aqui na Terra é algo tão precioso que devemos aproveitá-lo ao máximo, pois ele não é eterno. Hoje está à nossa disposição, mas quando chegar a hora de desencarnarmos, ele não vai avisar e muitas coisas que deixamos para fazer depois acabam ficando perdidas no tempo.
As pessoas sempre dizem que não têm tempo para praticar a caridade. Sempre alegando mil afazeres, acabam protelando esse trabalho social que engrandece o Espírito e enobrece o ser humano. Passamos a dar maior valor à vida e compreender melhor nosso semelhante e suas dificuldades quando passamos a freqüentar uma entidade filantrópica e presenciamos o quanto podemos ajudar as pessoas e, ao mesmo tempo, aprender com elas.
Sempre existe uma dificuldade para a caridade: uma hora é o trabalho, outra a família, e assim por diante. Porém, mais triste é saber que o tempo passou e você ficou a observá-lo, querendo praticar um ato nobre, mas sempre deixando para depois. Quando você olha para trás e vê quantas coisas poderia ter feito e quantas deixou de fazer, você reclama que o tempo foi curto, que poderia ter feito mais se tivesse mais disponibilidade.
Se fizermos uma analise em nossa mente com toda a sinceridade, veremos o quanto de tempo perdemos por dia. Passamos aproximadamente um terço de nossa vida terrena dormindo, mais umas tantas horas de frente para televisão (na maioria das vezes vendo uma programação que não leva a nada), outras tantas falando da vida alheia, que não nos compete julgar ou comentar. Apenas nestes pequenos exemplos, já podemos sentir a quantidade de horas perdidas por dia, quanto tempo é desperdiçado freqüentemente em nossa vida.
Não são apenas os encarnados que deixam o tempo passar como o vento. Os desencarnados que acabam ficando no Mundo Material, no ócio ou praticando atos indignos também têm o seu tempo perdido. Poderiam estar no Mundo Espiritual, estudando e auxiliando nos trabalhos em prol dos mais necessitados.
Tanto no Mundo Material quanto no Espiritual, trabalhos não faltam. Quando chegarmos ao Mundo Espiritual e descobrirmos que uma encarnação foi perdida no tempo, a decepção é muito grande. Tínhamos tudo para evoluir e jogamos as oportunidades literalmente pela janela. No Mundo Espiritual, há uma infinidade de Espíritos querendo e necessitando reencarnar para dar seqüência evolutiva à sua existência.
A caridade pode ser praticada de muitas maneiras, de acordo com Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “podeis praticá-la em pensamentos, em palavras e em ações. Em pensamentos: orando pelos pobres abandonados que desencarnaram sem mesmo terem visto a luz, uma prece de coração os alivia. Em palavras: ao dirigir aos vossos companheiros de todos os dias, alguns bons conselhos”.

Quando se está trabalhando em uma entidade filantrópica, fazendo a atividade com a qual mais se familiariza nesta casa, você se sente tão bem ao ajudar as pessoas que, quando você não pode comparecer um dia, surge um forte sentimento de falta. Este é um trabalho muito gratificante, pois as pessoas estão doando um pouco de seu tempo para ajudar outras pessoas e, paralelamente, estão aprendendo com esses seres humanos que têm muito o que ensinar para todos nós. Afinal, somos Espíritos antigos, já passamos por diversas reencarnações e sempre temos um pouco ou muito para ensinar aos nossos irmãos.
Ao fazer uma leitura salutar, você está aproveitando seu tempo. E ao exercer a paciência ou ouvir uma pessoa desabafar problemas e angústias, mesmo sem dizer uma palavra, você está fazendo uma caridade e seu tempo não foi perdido.
Quando falamos do tempo, fica-se uma visão meio vaga, pois se tem uma dimensão infinita dele, de que podemos usar e abusar, de que o tempo vai estar sempre ao nosso lado. Como tudo na vida material, ele também acaba um dia. É como o relógio que sempre marcou a hora, que funcionou durante anos e parou de um instante para o outro.
Tudo na vida tem o seu tempo. Muitas vezes, algo que queremos de imediato e não se concretiza nos traz uma certa frustração, abalando nossa fé. Devemos nos conscientizar que tudo na vida tem o momento exato para se realizar. A experiência se adquire com o tempo, ninguém chega ao topo de uma montanha sem antes escalá-la. Assim é a vida: superamos etapas e, muitas vezes, só compreendemos o porquê das coisas com o tempo.
O materialista diz que “tempo é dinheiro”, enquanto que o espiritualista afirma que “nada como o tempo para curar as feridas”. Lourival Lopes escreveu em seu livro Otimismo todo dia: “o tempo é meu amigo, jamais penso estar caminhando para situações de carência e tristeza. O tempo é uma benção, faz esquecer ofensas, curar doenças, desaparecer problemas, serenar o Espírito, ressurgir a compreensão e a esperança. Quero esperar com paciência, aproveitar os momentos para amar, corrigir falhas, adquirir conhecimentos, diminuir o peso da vida. Manterei o pensamento alto em todas as horas, não me fixarei nos aspectos negativos, defeitos e falhas das pessoas e dos acontecimentos. Aproveitarei bem o meu o tempo, ele está sempre a meu favor”.

Há tempos, recebi um e-mail com uma historinha de fundo moral e julguei propício transcrevê-la aqui, com o propósito de ilustrar melhor nosso assunto:
‘Certa vez, dois homens seriamente doentes estavam na mesma enfermaria de um grande hospital. O cômodo era bastante pequeno e nele havia uma janela que dava para o mundo. Um dos homens, como parte de seu tratamento, tinha permissão para se sentar na cama por uma hora durante as tardes (algo a ver com a drenagem de fluído de seus pulmões). Sua cama ficava perto da janela. O outro, contudo, tinha de passar todo o tempo deitado de barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado em posição sentada, ele passava o tempo descrevendo o que via lá fora. Aparentemente, a janela dava para um parque onde havia um lago. Havia patos e cisnes ali e as crianças iam atirar pão e colocar barcos de brinquedo na água. Jovens namorados caminhavam de mãos dadas entre as árvores e havia flores, gramados e jogos de bola. Ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno dos prédios da cidade.
O homem deitado ouvia o outro descrever tudo isso, apreciando todos os minutos. Ouviu sobre como uma criança quase caiu no lago e sobre como as garotas estavam bonitas em seus vestidos de verão. As descrições de seu amigo eventualmente o fizeram sentir que quase via o que estava acontecendo lá fora.
Então, em uma bela tarde, ocorreu-lhe um pensamento: Por que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava acontecendo? Por que ele próprio não podia ter essa chance? Sentiu-se envergonhado, mas quanto mais tentava não pensar assim, mais queria uma mudança. Faria qualquer coisa!
Em uma certa noite, enquanto olhava o teto, o outro homem subitamente acordou tossindo e sufocado, com suas mãos procurando o botão que faria a enfermeira vir correndo. Mas ele o observou sem se mover, mesmo quando o som de respiração parou. De manhã, a enfermeira encontrou o outro homem morto e, silenciosamente, levou o corpo embora.
Logo que pareceu apropriado, o homem perguntou se poderia ser colocado na cama perto da janela. Então o colocaram lá, aconchegaram-no sob as cobertas e fizeram com que se sentisse bastante confortável. No minuto em que saíram, ele se apoiou sobre um cotovelo e, com dificuldade e sentido muita dor, olhou para fora da janela. Viu apenas um muro’.
Moral da história: “E a vida é, sempre foi e será aquilo que nós a tornamos”. O homem que ficava na janela mostrou ao outro uma beleza que na realidade não existia. Ao invés de dizer que havia apenas um muro, ele descreveu um lugar maravilhoso, dando esperanças ao companheiro de que, um dia, poderia ver essa beleza ao sair do hospital.
Portanto, não vamos agir como o outro homem, invejoso e egoísta, pensando apenas em si. Vamos pegar o exemplo do homem que ficava na janela e aproveitarmos o tempo para a prática do bem, mesmo que um dia possamos nos decepcionar com alguma pessoa a quem auxiliamos. Antes que o tempo acabe, resolva questões mal resolvidas, reconcilie-se com um antigo desafeto antes que seja tarde e o remorso tome conta de seu ser. Vamos guardar também na lembrança os ensinamentos de Jesus: “porque o filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então, dará a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:17).
Para finalizar, gostaria de deixar para reflexão uma frase muito interessante que li tempos atrás: “Quem mata o tempo não é assassino, é um suicida”.
Por Marco Tulio Michalick
Texto original publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição nº 15, ano 2001.
Mundo Espiritualista