Em face da atual saturação mística
sobre o “calendário 2012”, avulta-se a obstinação nostradâmica lançando
previsões absurdas. Cada facção com seu cortejo de iludidos vão estabelecendo
sua agenda. Datas são repetidamente afixadas, ou adiadas, porque os adivinhos
não abrangem que a fragmentação do tempo em milênios, séculos, anos, dias,
horas, minutos etc, é apenas uma convenção humana, fruto da observação secular
dos fenômenos naturais.
A contagem do tempo como um fluxo
linear nasceu, sobretudo com a Renascença. De Leonardo da Vinci a Einstein,
observou-se na estruturação da percepção do tempo o devir (vir a ser). Desde
eras pitagóricas ao período cartesiano, nos achamos atualmente perante a
desconstrução do tempo clássico. A relatividade einsteiniana instituiu uma
inovação na percepção temporal. O momento quântico sobrepujou a cadência
newtoniana e a percepção do tempo (se houver como o compreendemos), deverá ser
(re)significado. Subliminarmente, alguns permanecem assombrados com a passagem
do tempo, esquecendo-se de que a nossa contagem cronológica é totalmente
arbitrária. As Leis naturais não são tangidas em face da maneira de como
dividimos e contamos o tempo.
Crenças antigas têm sido
entronizadas. O zoroastrismo, por exemplo, vem influenciando há milênios o
pensamento judaico-cristão, notadamente quanto à escatologia e ao tempo linear
de mundo. Por conta dessas crenças, uma infinidade de seitas tem arregimentado
pessoas de imaginação fecunda, mormente revendendo a ideia de que a “Era de
Aquários” está se aproximando, e que haverão transformações definitivas no
planeta. Anuncia-se a liquefação da calota polar, irrupções de maremotos,
terremotos, tornados, tsunamis, erupções vulcânicas. Afiança-se até que a
partir de 2014 um asteroide irá se colidir com a Terra e acarretará uma grande
destruição, e logo após os homens estarão aptos a vivenciar a “Nova Era”, em
“paz”.(!?...)
Destaca-se o mote da “transição
planetária” apregoando-se sobre hipotético “cinturão de fótons”(1) orbitando as
Plêiades(2) e da acreditada órbita do sistema solar ao redor da estrela
Alcíone. De acordo com a corrente “new age”, a Terra passará por esse “cinturão
de fótons”, o que derivará ou na elevação moral da humanidade, ou no fim do
Planeta. Essa superstição é rebatida por David Morrison, que atesta ser mística
e não ter nada a ver com a ciência. “Ademais o conceito de um cinturão de
fótons em órbita é um absurdo. Os fótons são luzes e eles se movem em linhas
quase retas, e não orbitando em torno de qualquer coisa, muito menos em torno do
aglomerado de estrelas Plêiades”.(3)
Na década de 90, “peritos” e
estudiosos das centúrias de Nostradamus também afirmavam o extermínio do
Planeta para setembro de 1999. Não obstante o alarme dos adivinhos
milenaristas, a Terra não desapareceu do mapa sideral. A ideia de que haverá
uma morte planetária é um mito presente em quase todas as civilizações. Para o
historiador Georges Duby, há muita similitude entre os medos do homem medieval
e os do homem contemporâneo. É verdade! O mundo mudou muito em matéria de
hábitos, costumes, tecnologia e ciência, mas a realidade social e anímica do
indivíduo e da sociedade de hoje não difere muito do quadro que existia no
século XI.
Evoca-se a ideologia milenarista
bastante enraizada na cultura cristã. Os historiadores cognominam milenarismo
os fenômenos sociais advindos, sobretudo através do movimento ativista medieval
aparecido no século XII, sob o auspício intelectual Gioacchino da Fiore, um
abade cisterciense e filósofo místico. A partir de uma explicação personalíssima
das Escrituras, de Fiore imaginava que por um período de mil anos haveria a paz
e a prosperidade na Terra, sob a tutela do Cristo Entretanto, esse milênio
seria antecedido por tragédias, fome, moléstias, guerras e cataclismos. Em
seguida surgiria a tranquilidade de mil anos, antes do “Juízo Final”, do
categórico triunfo das forças do bem sobre as forças do mal, num inacabável
fluxo e refluxo de acontecimentos.
Embora o jogo milenarista de temor do
final dos tempos versus esperança num mundo melhor permaneça no imaginário de
muitos desde o início da cultura judaico-cristã, existem épocas em que o pânico
se acentua de modo quase obsessivo, galvanizando colossais parcelas da
população. Paradoxalmente ou não, esquivando-nos dos ultimatos escatológicos
(milenarista ou equivalente), distinguimos atualmente a experiência de agudas
transformações planetárias. Todavia, também distinguimos que o planeta esteve
sucessivamente em processo de transição, até porque faz parte da sua história.
Não há como não admitir que o Orbe atravessa alguns episódios sinistros quais crepúsculos, prenunciando tensas noites. Emmanuel avisou que “ao século XX competiria a missão do desfecho dos acontecimentos espantosos (...) efetuaria a divisão das ovelhas do grande rebanho e uma tempestade de amarguras varreria toda a Terra. Depois da treva surgiria uma nova aurora. Luzes consoladoras envolveriam todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento.” (4). Em realidade, e não escapando da linearidade do tempo, percebemos que o século passado foi o mais sanguinolento de toda história humana.
Não há como não admitir que o Orbe atravessa alguns episódios sinistros quais crepúsculos, prenunciando tensas noites. Emmanuel avisou que “ao século XX competiria a missão do desfecho dos acontecimentos espantosos (...) efetuaria a divisão das ovelhas do grande rebanho e uma tempestade de amarguras varreria toda a Terra. Depois da treva surgiria uma nova aurora. Luzes consoladoras envolveriam todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento.” (4). Em realidade, e não escapando da linearidade do tempo, percebemos que o século passado foi o mais sanguinolento de toda história humana.
Talvez “Deus tenha já marcado com o
dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o
salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas
tarefas é que Ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da
regeneração”.(5) Sim! “o homem espiritual estará unido ao homem físico para a
sua marcha gloriosa no Ilimitado, e o Espiritismo terá retirado dos seus
escombros materiais a alma divina das religiões, que os homens perverteram,
ligando-as no abraço acolhedor do Cristianismo restaurado. Para esse
desiderato, a Humanidade necessitará de decididas inovações religiosas, porque
a lição do Cristo ainda não foi compreendida.”(6)
Deus adverte-nos por meio de flagelos
destruidores para que avancemos mais depressa. Assim, “os flagelos são
necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas
e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.”(7)
Assegura o Codificador que o Espiritismo será a doutrina mais apta a
desempenhar o papel de secundador do processo de regeneração da humanidade.
Recordemos que a prática dos códigos evangélicos é e sempre será a condição
intransferível que determinará a grande transformação social, política e
econômica do porvir. Nessa esteira, que ainda poderá perdurar alguns séculos,
haverá de ser o final do "mundo velho", desse mundo governado pela
colossal ambição, pela corrupção, pelo extermínio das normas éticas, pela
arrogância, pelo egoísmo e pela descrença.
Jorge
Hessen
Referências
bibliográficas:
(1) Alguns visionários creem que o Sistema solar ao percorrer a órbita de 26.000 anos mergulha periodicamente no cinturão de fótons, o que supostamente ocasiona transmutação da matéria, e os seres humanos se transformam em uma “nova raça”, mais “espiritualizada”. A humanidade entra em uma “Nova Era”.
(2) As Plêiades (Sete Irmãs ou Messier 45) são um aglomerado estelar aberto com cerca de 1000 estrelas, situado a 440 anos-luz do Sol, na constelação do Touro.
(3) Cf. David Morrison, astrobiologista sênior da NASA, disponível no sitehttps://astrobiology.nasa.gov/acessado em 25/09/2012
(4) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo espírito Emmanuel, 22ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Ed. FEB,
(5) Kardec , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap XX, item 5, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1997
(6) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro-RJ: Ed. FEB questão 238
(7) Kardec , Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 737, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1999
NILZA GARCIA - COM AMOR A VIDA
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